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Reflexão: Muito prazer! Sou a Semana de Arte Moderna 

Reflexão: Muito prazer! Sou a Semana de Arte Moderna 
Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor 
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo 
Abaixo os puristas! 
[…]
Manuel Bandeira

 Há 100 anos, artistas como a pintora Anita Malfatti e os escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade, Manuel Bandeira e outros idealizaram o que hoje consideramos como um dos momentos mais marcantes para a cultura e produção artística brasileira do século 20: a Semana de Arte Moderna. Inspirados nas vanguardas europeias, artistas propunham uma nova visão de arte, a partir de uma estética inovadora.

Escolheram nada mais, nada menos do que o Theatro Municipal de São Paulo para exporem, declamarem e discutirem esse movimento de origem europeia, o qual buscava romper com padrões estéticos tradicionais impostos desde o Renascimento.

O que conseguiram com esse evento? Chocar parte da população e trazer à tona uma nova visão sobre os processos artísticos, bem como a apresentação de uma arte “mais brasileira”, uma arte com a “cara” do Brasil, ou seja, contra tudo o que era “velho”, um basta a rimas frias e sonetos perfeitos e vazios. Um momento em que essas ideias de inovação, nas formas artísticas, foram postas abertamente de uma maneira que resultou em uma repercussão que comentamos até hoje.

Tornou-se uma Semana famosa pelas vaias, anunciando mudanças que seriam mais profundas nas décadas seguintes. As críticas, as vaias, acabaram tendo um resultado positivo porque não foram as vaias que destruíram. Ao contrário, foram as vaias que chamaram a atenção para essa mudança que os artistas estavam propondo.

Tarsila do Amaral, ícone do modernismo brasileiro, não participou da Semana de Arte Moderna, mas foi seu quadro Abaporu, uma das obras mais valiosas da história da arte brasileira, que se tornou um símbolo do Manifesto Antropofágico, cuja proposta era “devorar” as influências estrangeiras e, a partir disso, renovar a arte brasileira.

Foram esses artistas totalmente originais? Não, mas conseguiram levar para a poesia e para a prosa o vocabulário do cotidiano, escolheram novos temas e, principalmente, trouxeram a literatura para o momento presente, os fatos do presente para a literatura e a modernidade de se poder pensar a própria arte para fazer arte (metalinguagem).

Havia entre eles, uma posição anárquica, cuja frase famosa de Mário de Andrade os justificava: “Não sabemos definir o que queremos, mas sabemos o que não queremos”.

“Minha produção foi inegavelmente importante. Caso contrário, não estaríam aqui, cem anos depois, conversando sobre meu legado, comparado a “um grito no salão”. E, para gritar, não se pede licença: grita-se!”.

Texto por: Maria Zélia Dias Miceli, Gestora Colégios Santa Amália  e Gerente Executiva – Eixo Educação/ Liga Solidária.

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